sexta-feira, 4 de julho de 2014

Pingos nos 'is'


Pingos nos 'is'

Aproveito este espaço de interação dialógica pra lançar duas posições pessoais sobre temas do meu interesse. O primeiro ponto refere-se à criação de novos conceitos sobre termos já conceituados. O segundo ponto diz respeito a relação entre obra e autor. Tentarei expor de forma breve e sucinta, com exemplos banais, o que aqui defendo.

Conceitos . . .

Para alguns filósofos os entes só existem após criação de uma palavra que os define. Assim, a água faria parte do universo da existência após o surgimento da palavra que a define. Contudo, sabemos que o liquido inodoro, insípido, incolor, existe desde antes de sua definição

Do mesmo modo, alguns cientistas poderiam dizer que foram os gregos que inventaram a democracia. Pelo simples fato de serem os filósofos gregos que a definiram pela primeira vez. Até hoje, muitos cientistas estão amarrados aos conceitos da escola socrática sobre democracia. Simplesmente entendem por democracia aquilo que foi estabelecido pela definição platônica.

Hoje sabemos que sistemas democráticos, aos moldes ocidentais, existem desde antes do império grego. Muito antes de sua definição e conceito. Fazendo parte da cultura de povos tribais em várias partes do globo durante séculos. O que os socráticos fizeram, foi apenas criar um conceito. O que qualquer um pode fazer.

É certo que corremos o risco de viver uma confusão generalizada se cada um criar um conceito próprio sobre as coisas. O mundo em que vivemos está acostumado com padrões. Padrões que engessam a sociedade e a filosofia. Mesmo quando facilitam a matemática da ciência.

Muito além de reinventar a democracia. Ou redefinir o conceito de água. O que proponho que nos atrevamos a criar os próprios conceitos independente daqueles que nos foram deixados no passado. Rompendo a dependência de fundamentações teóricas e das referências pré-estabelecidas. Se atrevendo a criar o novo ao partir do nada, ou de si mesmo.

Obras e autores . . .

A relação entre obra e autor emerge além da esfera conceitual. Uma receita de bolo pode ser facilmente reproduzida, independente da participação daquele que a criou. Pensar assim, soa como dizer que o caminho de Cristo pode ser percorrido, por qualquer um, independente de Jesus. O que, aos olhos da fé, seria uma ofensa aos cristãos que defendem a parte que diz: 'Ninguém vem ao Pai, senão por mim'.

Mas estamos falando de ciência. Salvo as crenças e religiões a quem tem fé. O que quero dizer é que, além das palavras, o que dá força ao texto é a história de quem as cunhou.

Um vegetariano poderia reproduzir uma cartilha sobre dicas de churrasco, sem, ao menos, nunca tê-lo experimentado. Contudo, é na vivência do assador que o texto se legitima. É importante considerarmos estas e outras questões.

J.P.D.

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