Há alguns dias estava conversando com
uma amiga sobre temas de nosso interesse, como a inclusão social de artistas e
outros trabalhadores. Os direitos das minorias e os excluídos. Quando digo
temas do nosso interesse, excluo por um momento o que se passa nas telenovelas
e nos gramados de futebol. Falando em termos mais amplos seguimos a conversa
por caminhos incomuns. Até que chegamos ao tema da criação de personagens por
parte dos autores. Ela me perguntou de onde tiro inspiração para criar os
personagens de meus contos, poemas e outras estórias.
Para chegar até esta resposta tive que
lembrar outros 'criadores' como eu. Lembrei primeiramente de Chico Anysio, que
falecera recentemente, e criou mais de 200 personagens aos quais deu vida ao
interpretá-los. Mas fui mais fundo na obra da criação literária. Cheguei até o
Walt Disney. Não apenas um 'criador', como costumo chamar os escritores, mas
também um personagem, uma criatura admirável.
A história de Disney mostra luta e
superação. Em certo momento de sua vida, Disney foi despedido de um jornal onde
trabalhava. O motivo, segundo o editor chefe, era que Walt não tinha imaginação
suficiente para o cargo. Walt Disney nos provou o contrário e criou inúmeros
personagens, dando vida a cada um, que por sua vez marcaram nossas
infâncias, e fazem parte do dia-a-dia de nossas crianças.
Então ao explicar à minha amiga,
perguntei a ela o que era o Pato Donald, o Pão Duro Macmoney, o Tio Patinhas, o
Professor Pardal e os três Sobrinhos (Huguinho, Zezinho e Luizinho). E logo
após perguntar, já respondi dizendo que tais personagens são as diferentes
personificações do próprio Disney. Walt Disney deu um pouco de si para dar via
a cada uma destas criaturas. E assim fez com os Irmãos Metralha, Zé Carioca,
Mickey e Pateta.
Os personagens nada mais são do que
personificações do criador. É claro que ao criar um personagem, o autor, além
de colocar um pouco de si, coloca também muito das pessoas que conhece. Em cada
criação é uma nova poção, em que o criador (Mago) mistura ingredientes de sua
personalidade juntamente com a personalidade de outros que se identifica. Então
após todas estas explicações a pergunta de minha amiga estava respondida.
Como crio meus personagens? Dando a
eles um pouco de mim, do meu outro e do meu mesmo. Assim fez também Chico
Anysio e Walt Disney. E assim faz a maioria dos autores. Um 'criador' é capaz
de dividir-se e multiplicar-se em infinitas criaturas. Uma personalidade é
capaz de multiplicar-se em infinitas personificações. Temos que lembrar que os
autores também são personagens. E que, como criadores, também somos criaturas.
Cabe a nós, autores, personificar nossa múltipla e complexa identidade.
J.P.D.
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